Nasci em '82, em São Sebastião da Pedreira, em Lisboa, uma cidade que tem o mar "à porta". Por isso, talvez tenha sido natural que, aos dezasseis anos (mais coisa, menos coisa), tenha descoberto o surf.
Tinha uns amigos mais velhos que faziam surf e diziam que era "fixe" e, atraído por todo aquele "coolness", numa tarde fria de Outono, pedi para me levarem á praia.
A praia, que até então era sinónimo de férias com os pais ou tardes com os amigos, estava deserta e o mar revelava-se um território totalmente diferente. Havia ali alguma coisa de especial.
I was born in '82 in Lisbon, a city with the sea at its doorstep. So maybe it was naturally that at sixteen I discovered surfing.
Some friends of mine surfed and they said it was "cool". I guess I was attracted for all that "coolness" so one day on a cold Fall afternoon I asked them to take me along with them, to the beach. Until then the beach was a synonym for holidays with parents or afternoons with friends, was desert and the ocean was a whole new territory. I could sense there was something special there.
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Onde tudo começou. Where it all began. |
Descobri logo que não tinha um talento inato para a coisa.
Desajeitado, nas espumas, tentava copiar os movimentos dos outros, mas sem sucesso. Enquando eles já desciam as ondas de pé, aos berros e se riam como crianças quando caíam, eu lutava para me levantar naquela prancha emprestada, do tempo dos meus avós que, segundo vim a saber mais tarde (de forma não muito agradável), tinha sido roubada.
Durante meses fui aperfeiçoando os movimentos e quando finalmente cortei a primeira onda fiquei viciado. Eu também fazia "surf”. E isso, era “fixe”.
Soon I found out I was no born talent. Clumsy, on the soup, I tried to copy the other's moves, but with no success. While they were dropping the waves screaming and sometimes laughing like children when they fell, I was struggling to stand up on that old-school board, which I found out later (and not nicely), had been stolen.
For several months I perfected my moves and as soon as I cut my first wave I was hooked on it. I "surfed". And that was "cool".
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Carcavelos. O "quintal" de casa, durante os primeiros anos. The "backyard" for the first years. |
Um dia, um amigo emprestou-me uma cassete de
vídeo, em que músicas punk-rock, dividiam segmentos de um filme em que surfistas faziam manobras incríveis. Os líricos e a força dos
instrumentos, e as imagens incutiam ao surf uma identidade rebelde e agressiva. Este momento marcou a minha visão e abordagem inicial ao surf. Vivendo nos arredores da cidade, com todos os problemas que isso acarretava, era fácil adoptar ideais alternativos à cultura existente.
One day a friend borrowed me a videotape in which punk rock songs divided the segments of a movie where surfers did some sick maneuvers. The lyrics and the power of the instruments together with the images, infused surfing with a rebel and aggressive identity. This moment marked my initial vision and approach to surfing. Living on the outskirts of a big city, with all the typical youth problems, it was easy to choose alternative life ideals.
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Frame da sequência de abertura do filme "Focus". Opening sequence frame from the movie "Focus" (Taylor Steele, 1994). |
A partir daí tudo mudou. Com algumas mesadas, veio a primeira prancha. E aos 18, a carta de condução e o carro. (Ser "um a mais", no carro onde todos os que "surfam" bem mais que tu querem ir, não é fixe.) E de repente, já somos quatro e já podemos conduzir. E já não "envergonhamos" os mais velhos. Ganhámos algum respeito e já disputavamos as mesmas ondas que eles e até íamos todos juntos. Dois, três carros. De um momento para o outro, as viagens a Carcavelos (o "quintal"), Caparica, Guincho, Sesimbra e Ericeira, tornaram-se sucessivas. E depois as surftrips "além-distrito" (Figueira, Algarve...) e além-fronteiras! As ondas "chamavam por nós" em todo lado!
It all changed after that. With some allowances I got my first board. At 18 the drivers license and a car. (Being one "too much" in a car where everyone who surfs better than you wants to be, is not cool.) And all of the sudden we are four and we can drive. And we didn't "embarrass" the older ones anymore. We even charge the same waves as they do and we go together. Two, three cars. The trips to Carcavelos, Caparica, Guincho, Sesimbra and Ericeira became successive. And then the surftrips outside our district (Figueira da Foz, Algarve,...) and beyond portuguese borders. The waves were just "calling" everywhere!
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A primeira surftrip. Biarritz, 2002. Com Pat O'Connell, no centro (surfista e protagonista no filme "Endless Summer 2"). | The first surftrip. Pat O'Connell in te middle (surfer and protagonist in "Endless Summer 2"). |
Simplesmente sabes que as ondas estão lá e queres estar lá também! É essa a "chamada" que atendo. E eis que hoje alguém lhe chamou "cultura" e eu lhe dei um nome.
Que fique bem claro: com naquela idade ninguém tinha a mais pequena ideia do que era surf culture! Aliás, nem hoje em dia se usa essa associação de palavas, na vida quotidiana, pelo cidadão comum que faz surf. Só para que não caiam por vezes no erro de pensar que, quando vamos fazer surf, vamos estar no "nosso meio", a "ser surfistas" e a fazer "cultura". Não é nada disso.
Só muitos anos mais tarde e muito recentemente, com trinta e um anos de idade, é que tomei consciência de que grande parte das escolhas que fiz, foram condicionadas pelo facto de poder e querer fazer surf. E isto, porque durante todo este tempo, conheci pessoas ao redor do Mundo que, de alguma forma, partilham este sentimento. Achei que isso era interessante, decidi descobrir mais acerca disso e desenvolvi um projecto académico. Li alguns registos, assisti a conferências, comecei a fotografar e a escrever e assim surge "A Linha", como uma espécie necessidade minha, de explorar mais esse conceito e de expressar a minha abordagem a esta "cultura". Do surf. Da vida.
Por isso esperem um pouco de tudo! É que a vida está longe de ser só chinelos, calções, óculos escuros e prancha debaixo do braço! Até breve!
You just know the waves are there and you want to be there too. That's the call I choose to answer. And today someone called it "culture" and I gave it a name.
Let me make something clear: at that age I didn't have the slightest idea of what surfing culture was. Neither did anyone! Nobody did even use that association of the two words. Just in case you might be thinking that when we go surfing, we are "in our own world", being "surfers", making "culture". That's wrong.
Only many years later, pretty recently at thirty one years old, did I took conscience that all the most choices I made in life where conditioned by my ability and the willingness of surfing.
And because during all this time I have met people all around the World that somehow share this feeling! I though it was interesting to find out more about it so I developed an academical project. I read, attended conferences, started photographing and writing and as a result I started "A Linha" (the line) as sort of answer to a need of mine of exploring further the concept and to express my approach to "the culture". Do surf. Da vida. (Of surfing. Of Life.)
So expect the unexpected! You know, life is far from being just slippers, shorts, sunglasses and a surfboard. See you soon!